domingo, 12 de abril de 2015

Extravagâncias no renascimento da arte

O início da Idade Moderna se dá, tradicionalmente, a partir da conquista de Bizâncio - ou Constantinopla -, capital do Império Romano do Oriente, pelo Império Otomano em 1453. Com a transição do século quinze para o dezesseis começa a surgir na Europa uma descredibilidade na estrutura religiosa da Igreja Católica. O abalo deste sistema que predominou na Idade Média se deu pelas crises morais dos papas, bispos e sacerdotes, pelas indulgências, pelo nepotismo, dentre outras imoralidades do clero em geral. Neste cenário, o humanismo emerge trazendo consigo o renascimento do cidadão europeu, conhecedor agora da autonomia, da liberdade e do senso ético.

O início do século dezesseis, chamado de Cinquecento na Itália, foi o período que se destacaram os mestres famosos das escolas de Florença, Roma e Veneza. Sendo este período também conhecido como o mais célebre da arte italiana, a saber, pelas figuras de Brunelleschi, Michelangelo, Donatello, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Tintoretto, entre outros. Ao redescobrirem a arte clássica greco-romana os mestres italianos se tornaram primorosos na perspectiva científica, na anatomia da figura humana e nos conhecimentos das formas arquitetônicas. Estas descobertas acabaram sendo propagadas para a Alemanha de Albrecht Dürer e Países Baixos de Hieronymus Bosch.


Entretanto, Bosch, conhecido por ser o maior artista da região nesse período, não deixou ser levado pelo emergente estilo moderno advindo da Toscana. O primeiro biógrafo a escrever sobre este mestre flamengo foi Giorgio Vasari e desde essa época, a crítica já considerava a extravagância das composições como característica predominante em suas obras. Na arte de Bosch, nascem criaturas assustadoras e terríveis amálgamas de homem e animal, paisagens fantásticas e alegorias demoníacas que nunca haviam sido vistas antes e as quais demarcam nitidamente o afastamento das formas apresentadas durante a Idade Média. Este marco que o artista alcançou ao retratar os medos do homem medieval naquele momento em que o espírito moderno se infiltrava pelas brechas das antigas ideias que continuavam em voga, fez sua pintura não ser muita aceita e nem compreendida pelos intelectuais da época. 

Erasmo de Roterdão, eminente filósofo da Renascença, embora nunca tivesse mencionado o pintor em seus escritos, se posicionava contra as composições pictóricas que não retratavam adequadamente a vida de Cristo nas paredes das igrejas. Bosch, sem deixar de ser cristão, certamente foi um destes atrevidos que renovou a maneira de representar a esfera espiritual. Outro marco essencial para o mestre foi alcançar o berço da arte renascentista, mais especificamente em Veneza, região onde até hoje encontra-se algumas de suas obras evidenciando sua distinção dos mestres italianos. Aqui no Brasil, a pintura intitulada "As Tentações de Santo Antão" foi adquirida por Assis Chateaubrind e atualmente pode ser encontrada no acervo do Museu de Arte de São Paulo, o MASP.


Referências:
Coleção Grandes Mestres. BOSCH. São Paulo, 2011 (Livro).

Ernst Hans Gombrich. A HISTORIA DA ARTE. Rio de Janeiro, 2013 (Livro).

Luiz Ferrcine. ERASMO DE ROTTERDAM: O MAIS EMINENTE FILÓSOFO DA RENASCENÇA. São Paulo, 2011 (Livro).


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