sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Ensaios Gráficos

Com a palavra, D.X:
Neste ano, em meio a tantas correrias loucas, me surpreendi com o foco que consegui direcionar para o meu desenvolvimento enquanto ilustrador e artista visual. Por mais que isto tenha implicado no meu afastamento dos palcos, a empreitada foi valiosa. Desde o início do ano estive me dedicando para completar uma série de trabalhos que chamei de Ensaios Gráficos. Na definição original:

Isso que denominamos Ensaios Gráficos é uma série de estudos visuais realizada pela Láudano Artes na qual envolve uma pesquisa parcialmente fundamentada na abordagem triangular proposta por Ana Mae Barbosa. O objetivo é produzir conteúdos imagético e textual baseados nas produções culturais da humanidade e divulgá-los livremente para contribuir com o desenvolvimento de olhares críticos sobre arte e culturas visuais. 



Assim, desenvolvi quatorze ilustrações baseadas em pesquisas que me submeti para me aprofundar em alguns conhecimentos ligados à história da arte. Todas elas podem ser lidas aqui. Após a finalização da série, consegui ainda expor o resultado desta investigação na Biblioteca central da cidade, à convite da Secretaria de Cultura, na exposição que foi intitulada como Cartum, Cartoon, Cartone. Felizmente, um canal de televisão local fez a boa ação de registrá-la divulgando também as oficinas de cartum que integravam a proposta da exposição. Veja aqui:

Depois disso, imaginei que em cima das ilustrações originais eu poderia redesenhar estes trabalhos em formato digital nos softwares que utilizo em minha profissão fora da Láudano Artes. Resolvi tentar e o que vingou foi uma nova criação, ao meu ver. Por isso, aos poucos, estou substituindo as ilustrações originais aqui no blog pelas novas versões digitais, as quais tive um cuidado maior na composição. Fique à vontade para acessar os conteúdos! 
Voltamos com novidades em 2016! 
Boas festas...

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Entrevista: DJ Nuts - "SALVA ESSA PORRA!"

Com a palavra, D.X:
No quarto dia deste mês de dezembro tive a honra de trocar uma ideia com o prestigiado DJ Nuts, que veio até Maringá pra tocar no já consagrado baile 16 Toneladas. Trocamos uma ideia sobre discotecagem, a dupla Nitro e tambem sobre música brasileira. Uma das primeiras vezes que ouvi falar do cara foi no blog do Paulo Napoli há uns dez anos atrás quando ele lançava o disco Vida X Game, com beats produzidos a partir de samples de videogames antigos.
DJ Nuts - pseudônimo de Rodrigo Velloso Teixeira - começou a discotecar no ano de 1989, em ambientes improvisados e festinhas de amigos, vigiado pelos garotos mais velhos, não tão amistosos, que estavam lá solicitos para caçoar do DJ iniciante. Outro frio na barriga se deu em 1993, já tocando em clube, no Sound Factory, Nuts entrou pra discotecar morrendo de medo pois o DJ que tocou anteriormente já tinha discotecado praticamente tudo o que estava no case do jovem Rorigo. Mas isso não foi o suficiente para desmotivá-lo.
Ainda na década de 90 teve início a Nitro formada por Nuts em parceria com o rapper Napoli. No youtube consegue-se ouvir quatro faixas de um EP da dupla lançada em 1998 no formato K7. Para o DJ, a principal conquista do grupo foram os fãs de verdade: -Eu prefiro ter o respeito de certas pessoas do que o respeito maior que se entende que é a fama! Foi o que ele me disse, antes de evidenciar a vontade de continuar o projeto. A dupla continua bons amigos, porém a parceria no som deverá ser aguardada por mais um tempo.
Em relação a discotecagem, Rodrigo Nuts foi pontual: -Eu diria que essa parada interessante que é o resultado da mistura de duas coisas é o mínimo da obrigação que um DJ deveria fazer. É isso mesmo! Em tempos de DJs de USB, alguns não fazem nem mesmo o mínimo considerado pelo entrevistado. Todavia, algumas das misturas - mix ou mashup - feitos por ele, são derivados de acapellas gravadas com o próprio celular, como foi o caso de Mantenha o Respeito de Marcelo D2 e outro caso especial, em que o DJ captou alguns vocais do prestigiado cantor de reggae, Pato Banton, durante uma breve estadia na Califórnia.
A preferência de Nuts tem sido por discotecar música brasileira ao invés da música rap, ainda que ele tenha revelado já ter feito festa de música nacional em São Paulo onde não foi "ninguém". Antigamente ele só tocava nossa música na gringa, pois pra ele, a molecada daqui queria só ouvir música norte-americana. Originais do Samba, Jorge Ben e Marku Ribas eles não queriam ouvir. Ainda segundo o DJ, "hoje em dia tá na moda ser brasileiro de novo".

Por fim, também questionei sobre projetos futuros e por enquanto, o foco de Nuts é o lançamento do disco em parceiria com Hélcio Milito, falecido irmão do também músico Osmar Milito. O projeto será primeiramente lançado em vinil, numa tiragem "covardemente limitada" de algumas dezenas de cópias: Pra fazer uma parada especial! É claro que, o mundo virtual terá o gostinho de hospedar a pedrada também. O projeto será lançado em outros formatos, menos em CD. -Nada mais em CD! Arrematou na mesma onda em que garantiu voltar a publicar novos materiais de seu garimpo pela música brasileira...
É claro que de toda nossa conversa gravada, muitas coisas ficaram de fora desta síntese acima. Porém, dependendo da resposta que tiver, posso voltar para publicar o áudio da entrevista na íntegra ou algum recorte dela futuramente. Agradeço imensamente a Bel Cardoso e a Lu Trabuca que cederam seus dispositivos móveis para realizar o registro. Ah! E o título que dei para esta publicação foi a última coisa falada por Rodrigo Nuts na entrevista: -SALVA ESSA PORRA!!
Até a próxima...

Fotos por Bruno Donato


Ouça o EP da Nitro:


Desenho


https://www.instagram.com/laudanoartes/

O desenho, sendo uma forma de linguagem, frequentemente é utilizado na comunicação. Entendeu ou quer que eu desenhe? Quantas vezes utilizamos este questionamento já dando razão, ainda que sem querer, para aquela outra ideia que temos, onde "uma imagem vale mais do que mil palavras", não é mesmo?
Conforme Souza e Parpinelli (2014, p. 41), o desenho "envolve operações mentais como representar, relacionar, escolher, simbolizar, significar, entre outros, interferindo de forma direta na formação de conceitos". Quando desenhamos, mesmo sem dominar a técnica, estamos desenvolvendo a concentração, a atenção e a coordenação motora, além de trabalharmos a intuição e a sensibilidade.
Podemos defini-lo ainda nas modalidades livre, cópia e dirigido. Respectivamente quando o processo é guiado pelo indivíduo, de maneira leviana, quando o foco é na reprodução e representação fiel, e quando o tema é determinado e frequentemente desperta emoções no espectador.
Além do propósito de comunicação, ainda podemos usar esta técnica artística para nos expressarmos, seja desenhando por hobby ou por profissão. Inclusive a profissão de design tem sua origem no desenho e muitos dos objetos de design que estão à nossa volta, como automóveis, mobiliários, ferramentas, etc, tiveram seu projeto concebido por meio do desenho.


Referências:

Joana José Hina Machado de Souza, Roberta Stubs Parpinelli. PESQUISAS DE MATERIAIS EXPRESSIVOS. Unicesumar, Maringá, 2014 (Livro).

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A sexualidade na obra de Egon Schiele

28/Dez/2012 por D.X**

Se observarmos o trabalho do pintor austríaco Egon Schiele (1890-1918) há uma poética de sexualidade e morbidez. Ele morreu precocemente, mas teve reconhecimento artístico ainda em vida na cidade de Viena sob apoio do artista Gustav Klimt.
Em sua obra vemos um alto teor de erotização em telas pintadas como um esboço – como se sua obra fosse um produto inacabado.

Egon Schiele, Desenhando um Modelo Nu em Frente a um Espelho, 1910 (plumbagina 55,2 x 35,3 cm)

Podemos tentar compreender estas características na obra de Schiele, revirando algumas breves ideias do também austríaco Sigmund Freud, que já divulgava sua psicanalise mundo a fora na época em que o pintor desenvolvia sua poética.
Schiele conheceu Viena em 1906 quando aprovado na Academia de Belas Artes. Antes disso, era só um garoto que se refugiava em seus desenhos, quando frequentava a escola secundária em Krems, também na Áustria. Todavia foi no final do século 19 que o ambiente artístico da capital da monarquia do Danúbio evidenciou-se graças ao quadro Jovem Rapariga sob uma Cerejeira de um artista chamado Engelhard, que provocou escândalo por ser uma representação de nu posto diante da pudica audiência feminina.
Quatro anos após o escândalo, em 1897, Gustav Klimt e outros artistas vienenses fundaram a Secessão de Viena exigindo a “abolição da distinção entre arte mais elevada e arte menor, arte para ricos e arte para pobres”, declarando a arte como propriedade comum. Este grupo além de trazer exposições de pintores impressionistas, englobou todas as áreas artísticas, trabalhando com escritores e músicos austríacos de renome.
Klimt ao conhecer o jovem Schiele de dezessete anos, ofereceu-lhe todo seu apoio até o fim de sua vida, influência notada nos óleos sobre tela do então rapaz. Outro detalhe interessante é que a maioria dos desenhos do jovem pintor, caracterizados como estudos sobre o corpo humano, eram assinados como obras de arte terminadas, enquanto para Klimt estes estudos preliminares serviam apenas de base para as pinturas a serem concebidas. Aos dezenove anos, Schiele abandonou a academia e criou o Grupo de Arte Nova se opondo ao academicismo e dando início a um novo período em seu trabalho.


Egon Schiele, A Maliciosa (Gertrude Schiele), 1910 (guache, aquarela e carvão com realce em branco 45 x 31,4 cm)

Neste novo período Schiele inicia os estudos de nu, tendo como primeira modelo sua irmã Gertrude, quatro anos mais nova que ele. Mais tarde todas as mulheres e modelos que passaram pela vida de Schiele se assemelhavam a sua irmã. Essa confrontação que começa com Gertrude procede com as jovens proletárias e prostitutas. Nos desenhos, Schiele cuidava para que suas representações batessem de frente com os tabus da época. Deste modo, o público vienense que presencia suas pinturas, designa-as como pornográficas e depravadas.
Schiele retratava suas modelos tão negligentemente que é de surpreender o impacto que as pinturas causavam. Entretanto é evidente que as poucas linhas que dão a noção do corpo representado são realçadas por cores vivas, exatamente em áreas erógenas convidando o espectador às partes mais íntimas e proibidas das figuras. A sexualidade na obra de Schiele não aparece somente na condição de voyeur, o artista que criou cerca de cem autorretratos também se põe na função de exibicionista, fascinado com sua própria sexualidade, representando-se nu, masturbando-se como se assinasse o atestado de superação da fase fálica descrita por Freud.
Tanto nos autorretratos quanto nas representações de suas modelos, os traços dinâmicos revelam seu encanto pela estrutura óssea, que articulam a expressão do corpo retratado com linhas firmes. Em contraste, os peitos, vulva e pênis parecem emergir carnudos com sua cor de ferida aberta. Nota-se também o tipo de estrutura física, estilizado -magro e esguio – opondo-se ao ideal burguês de beleza vigente na época, de mulheres bem nutridas e seios fartos.
A arte é reveladora dos desejos e da cultura dos povos desde os tempos da arte primitiva, com esculturas que reverenciavam corpo feminino, nu e símbolo de fertilidade, passando pelas pinturas de nudez feminina em proporções canônicas e também na quebra destes mesmos cânones pelos pintores do início do século 20. Desde o nosso inocente desenvolvimento psicossexual, esboçamos descobertas que serão revistas na vida adulta. Lidar com a sexualidade é uma forma de compreender-nos enquanto indivíduos. Compartilhá-la é apreender a coexistir num âmbito social, descobrindo os momentos de expô-la ou reprimi-la.
Para o artista a sexualidade não pode estar coagida, pois como é intitulada uma das obras de Schiele, pintada em 1912: Oprimir o Artista é um Crime, é Assassinar a Vida no Ovo!


**Esta é a data original de publicação num outro blog.

Referências:
ALMEIDA, Sullivan B. de. Percepções acerca de uma análise imagética de Fantoches da Meia-Noite, de Di Cavalcanti, e de “Marionetes do Kamasutra”, deEgon Schiele. Revista Trama Interdisciplinar. v. 2, n. 2, 2011, 131-155. Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/4427. Acesso em 09/11/2012
DA MATA, Roberto. Você tem cultura? Jornal da Embratel. Rio de Janeiro, 1981.
BELTING, Hans. Arte Universal e Minorias – uma nova geografia da história da arte. In: O fim da história da arte. São Paulo: Cosac Naify, 2006. 95 a 104.
MEDNICOFF, Elizabeth. Dossiê Freud. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
MORAIS, Zita (tradução). Egon Schiele. Lisboa: Lisma, 2006.
VILLAÇA, Nízia. A MULTIPLICAÇÃO DOS CORPOS NA COMUNICAÇÃO ARTÍSTICA: Representação e Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ. Disponível em: http://www.pos.eco.ufrj.br/docentes/prof_nvillaca.html. Acesso em 09/11/2012

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Lançamento "Vila Bosque"


A série de trabalhos intitulada Vila Bosque resume-se em tirinhas (quadrinhos) desenvolvidas no ano de 2015. O processo de criação foi dinâmico e descontraído com o objetivo de trazer um olhar crítico em temas que, as vezes, podem parecer levianos. A série durou nove edições e podem ser conferidas abaixo.


#01 - Fido nas Redes Sociais
#02 - Fiu Fiu
#03 - Meninas Veneno
#04 - História do Artista
#05 - Fido, o misantropo
#06 - Revista
#07 - Dilema de Fido
#08 - Não é o que você está pensando!


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Causando um tombamento


Com mais de dois milhões de visualizações, a curitibana Karol Conka segue representando a mulherada no rap e na vida. Fiz essa ilustração em formato digital baseado em algumas fotos da artista. Abaixo vídeo dirigido pelo produtor Kondzilla:

https://youtu.be/LfL4H0e5-Js




quarta-feira, 1 de julho de 2015

Cobertura da RIC TV sobre a exposição "Cartum, Cartoon, Cartone!"

"No dia do meu aniversário (17/Junho) a RIC TV Maringá foi até a exposição montada na Biblioteca do Centro conhecer meus Ensaios Gráficos e conversar sobre as relações produzidas entre história da arte e cartuns nestes trabalhos."
-D.X


Na exposição foi apresentada uma série de estudos visuais denominados de Ensaios Gráficos os quais foram produzidos enquanto conteúdos imagético e textual baseados nas produções culturais da humanidade sob a estética dos cartuns. Estes ensaios foram publicados no blog da Láudano Artes e estiveram reunidos e expostos para visitação durante o horário de funcionamento da biblioteca. As oficinas ofertadas fizeram parte do projeto “Eu si divirto!” que é uma homenagem ao cartunista Lukas, nome utilizado por Marcos César Lukasewigz, falecido em 2011.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Chamada "Cartum, Cartoon, Cartone!"

Por meio da Secretaria de Cultura, através da Gerência de Promoção da Leitura, a Láudano Artes promove a exposição "Cartum, Cartoon, Cartone" do artista visual D.X - André Luís Onishi - entre os dias 15 e 30 deste mês de Junho na Biblioteca do Novo Centro. Como parte da programação ainda serão ofertadas, pelo artista, oficinas de cartum nas Bibliotecas Municipais. As ações fazem parte do projeto “Eu si divirto!” que é uma homenagem ao cartunista Lukas, nome utilizado por Marcos César Lukasewigz, falecido em 2011. Nas oficinas serão trabalhadas a produção visual, humorística e opinativa por meio do cartum.


Na exposição será apresentada uma série de estudos visuais denominados de Ensaios Gráficos os quais foram produzidos enquanto conteúdos imagético e textual baseados nas produções culturais da humanidade sob a estética dos cartuns. Estes ensaios foram publicados no blog da Láudano Artes (http://laudanoartes.blogspot.com.br/p/ensaios-graficos.html) e agora estarão reunidos e expostos para visitação, durante o horário de funcionamento da biblioteca, tendo por objetivo contribuir para o desenvolvimento de olhares críticos sobre arte e culturas visuais na cidade.


Programação das OFICINAS:
Horário: 13h30 às 14h30 (Biblioteca do Palmeiras será realizada entre as 13 e 14 horas)

22 de junho
Biblioteca do Alvorada
Avenida Sophia Rasgulaeff, 693

23 de junho
Biblioteca do Novo Centro
Avenida Horácio Racanello, 6090

24 de junho
Biblioteca do CEU de Iguatemi
Avenida Vereador Antonio Bortolotto, Conj. Residencial D. Angelica

25 de junho
Biblioteca do Mandacaru
Avenida Mandacaru, 317

26 de junho
Biblioteca da Operária
Travessa Liberdade, 26 (continuação da Avenida Paissandu)

30 de junho
Biblioteca do Palmeiras
Avenida Kakogawa, 1.310, Parque Grevíleas III


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Origem da Arte Contemporânea brasileira

Praticamente podemos chamar de Arte Contemporânea as manifestações artísticas que acontecem atualmente, no presente momento. Entretanto, o marco inaugural da arte contemporânea no Brasil é comumente associado ao neoconcretismo que teve sua origem com a publicação do Manifesto Neoconcreto em março de 1959. O manifesto foi assinado por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, os quais apresentaram uma nova vanguarda na arte brasileira ao romperem com o movimento concreto que já tinha ganhado terreno no país desde o início da década de 1950.


Algumas características deste grupo são a superação da tela como suporte, o rompimento do espaço tradicional da obra de arte e o estabelecimento da interação entre o trabalho artístico e o espectador por meio de uma relação ativa entre ambos. Um exemplo "concreto" disto pode ser observado em Bichos de Lygia Clark, que são placas de metal polido articuladas por dobradiças e podem ser manipuladas pelo público, conferindo novas formas ao trabalho e induzindo ao espectador participante o papel de completar o sentido da obra por meio desta interação.
Ferreira Gullar é tido como o principal articulador teórico do grupo. Tanto ele quanto o crítico Mário Pedrosa já tinha neste período seus seguidores e uma certa capacidade de influenciar aqueles que se reuniam em torno deles. Foi Gullar que investigando a construção tridimensional de Lygia inventou a denominação não-objeto para se referir àquele trabalho que já não era nem pintura, nem escultura e muito menos relevo como tentou denominar Pedrosa. A descoberta do poeta foi comunicada oficialmente na mesa de jantar do apartamento de Lygia Clark. Esta residência foi um dos pontos de encontro do grupo e o lar de incontáveis conversas sobre as experiências do coletivo no âmbito da arte brasileira e contemporânea. Convencido de que a denominação criada ajudaria nas formulações das novas experiências do grupo, Ferreira Gullar mais tarde publicou a "Teoria do não-objeto".
Além de Lygia, outro artista deste grupo que ganhou notoriedade no circuito internacional foi Hélio Oiticica. Munido de uma capacidade singular de formular linhas de interpretação sobre o próprio trabalho, não se mostrou defasado em relação à produção americana e européia e se manteve em consonância com o discurso das vanguardas dos grandes centro artísticos. Sua obra intitulada Tropicália inspirou os tropicalistas e um de seus conhecidos parangolés também acabou sendo vestido por Caetano Veloso na década de sessenta. Outro trabalho bastante referenciado do artista é a bandeira Seja Marginal, seja Herói uma espécie de estandarte da marginália, também conhecida como cultura marginal que se proliferou para outras linguagens artísticas. Desde sua morte, sua família cuida de seu patrimônio o qual foi parcialmente destruído por um incêndio no ano de 2009.

Referências:
Flávio Rosa de Moura. OBRA EM CONSTRUÇÃO: A RECEPÇÃO DO NEOCONCRETISMO E A INVENÇÃO DA ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL. São Paulo, 2011. (Tese de Doutorado)


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Exposição "Cartum, Cartoon, Cartone" (15/06 a 30/06)


Por meio da Secretaria de Cultura, através da Gerência de Promoção da Leitura, a Láudano Artes promove a exposição "Cartum, Cartoon, Cartone" do artista visual D.X - André Luís Onishi - entre os dias 15 e 30 deste mês de Junho na Biblioteca do Novo Centro. Como parte da programação ainda serão ofertadas, pelo artista, oficinas de cartum nas Bibliotecas Municipais. As ações fazem parte do projeto “Eu si divirto!” que é uma homenagem ao cartunista Lukas, nome utilizado por Marcos César Lukasewigz, falecido em 2011. Nas oficinas serão trabalhadas a produção visual, humorística e opinativa por meio do cartum.

Na exposição será apresentada uma série de estudos visuais denominados de Ensaios Gráficos os quais foram produzidos enquanto conteúdos imagético e textual baseados nas produções culturais da humanidade sob a estética dos cartuns. Estes ensaios foram publicados no blog da Láudano Artes (http://laudanoartes.blogspot.com.br/p/ensaios-graficos.html) e agora estarão reunidos e expostos para visitação, durante o horário de funcionamento da biblioteca, tendo por objetivo contribuir para o desenvolvimento de olhares críticos sobre arte e culturas visuais na cidade.


Programação das oficinas:
Horário: 13h30 às 14h30 (Biblioteca do Palmeiras será realizada entre as 13 e 14 horas)

22 de junho
Biblioteca do Alvorada
Avenida Sophia Rasgulaeff, 693

23 de junho
Biblioteca do Novo Centro
Avenida Horácio Racanello, 6090

24 de junho
Biblioteca do CEU de Iguatemi
Avenida Vereador Antonio Bortolotto, Conj. Residencial D. Angelica

25 de junho
Biblioteca do Mandacaru
Avenida Mandacaru, 317

26 de junho
Biblioteca da Operária
Travessa Liberdade, 26 (continuação da Avenida Paissandu)

30 de junho
Biblioteca do Palmeiras
Avenida Kakogawa, 1.310, Parque Grevíleas III

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Atrações Musicais no II Encontro de Culturas Urbanas


 O Encontro de Culturas Urbanas vem dar apoio as constantes discussões sobre arte e público levantadas por pessoas de todo mundo. Este tema nos estimulou a considerar que as manifestações culturais podem/devem ser realizadas em esferas públicas para permitir que a sociedade possa fruir dos trabalhos realizados sob influência do meio em que o artista está inserido.

Emily Rose

O som da Emily Rose é pesado, mas não só. Iniciada em 2011, a banda vem se apresentando em festas de repúblicas, festivais e bares de Maringá e região. Com Diego na bateria, Melina no baixo e Frank na guitarra e vocal, vem transformando sentimentos e experiências de vida em música, de forma espontânea e sincera.
Para quem quiser conhecer o som da Emily, o primeiro EP da banda, Embrião, possui quatro faixas (sendo uma faixa bônus) e está disponível para download gratuitamente neste endereço: http://emily-rose.bandcamp.com/

Manada Crew e Ivan Marinheiro

 Manada Crew tem o intuito de fazer musicas livres, produzir com sentimento tanto quanto nas composições, quantos nas batidas ou em qualquer projeto que estejam engajados, a Crew veio a se tornar uma realidade em meados de 2013 entre gravações no estúdio Elefante Records com os amigos, papos de esquinas pela madruga, e muito Freestyle, resumindo união de três malucos pra fazer um bom som... Em sua apresentação contará com a participação de Ivan Marinheiro, MC da Zona Norte de Maringá que lançou recentemente seu segundo disco solo batizado de Autópsia Na Verdade, com produções de DJ Samu, DJ Coala e o produtor do primeiro disco Fubá Beat's, gravado, mixado e masterizado no Studio Ichiban Records pelo DJ Samu. A parte visual do disco é assinada pela genuína artista visual Elisa Riemer, que transcreve os gritos da alma em sua arte e já expôs na primeira edição do Encontro de Culturas Urbanas.

União da Paz

Vindos da região oeste de Maringá, União da Paz é Jonas Sagaz, Drintafari, Julio Beck e Cabrobró. Inspirados pelo ritmo Jamaicano Reggae, e sua influente miscigenação com o genêro Rap, o grupo inicia suas apresentações buscando levar ideias que contribuam com o conhecimento critico cidadão humano e a libertação interior. Traz em suas canções mensagens sobre o dia a dia da periferia, luta pelos direitos populares e aspectos da filosofia Rasta.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Fragmentos de Marcelo Monteiro

Com a palavra, D.X:

Dos meus amigos que trabalham com arte, tenho certeza que o que mais tem se destacado na área das Artes Visuais é o Monteiro. Tenho receio em descrever as impressões que tive ao presenciar sua exposição intitulada Fragmentos, pois poderia gastar meus dedos redigindo centenas ou milhares de palavras e mesmo assim elas formariam uma síntese injusta e incompleta do que é experienciar o seu trabalho. Sempre que o encontro pessoalmente faço questão de me perder em conversas que podem parecer longas para quem está de fora, pois além de sincero e empolgante, a expressividade que o torna criatura viva é a mesma que se faz intrínseca em suas peças. 


Outra coisa que permeia nosso bate-papo é o tal do olhar de fora, a preocupação com o visitante leigo e o respeito ao público. Presenciei a realização de dois monumentos que pertencem à uma série desenvolvida em uma oficina improvisada na Universidade Estadual de Maringá e também fui convidado a dar uma lascada no imenso tronco de árvore que ainda estava em processo de concepção. Destes trabalhos, o mais recente carrega a essência de outras peças expostas no Convite às Artes Visuais, o vazado. A exposição não contou com nenhum de seus monumentos que se impõem pelas calçadas da UEM, pelo contrário, o que presenciei eram esculturas reduzidas em tamanho, mas não em significado.
Do rude ao delicado e do áspero ao polido a maior beleza de seu trabalho, em minha concepção, sempre será a tridimensionalidade. E não somente na robustez dos trabalhos mas também nas lacunas que se preenchem com o que está além da obra. Aqui até o vazio se faz completo. Que estes fragmentos nunca sejam comparados à migalhas, mas à uma parte de um todo que se ergue diariamente na consagração do monumental Marcelo Monteiro.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Monstro do Ceará



Dando continuidade a série de homenagens à músicos, apresentamos Rapadura Xique Chico, este MC de RAPente que veste o Norte e Nordeste brasileiro. Já se apresentou duas vezes em Maringá e circular pelo país fazendo este som autêntico com muita poesia em seu canto. Assista abaixo o primeiro vídeo deste artista que lançou seu álbum Fita Embolada do Engenho em 2010.



domingo, 24 de maio de 2015

II Encontro de Culturas Urbanas



O Encontro de Culturas Urbanas vem dar apoio as constantes discussões sobre arte e público levantadas por pessoas de todo mundo. Este tema nos estimulou a considerar que as manifestações culturais podem/devem ser realizadas em esferas públicas para permitir que a sociedade possa fruir dos trabalhos realizados sob influência do meio em que o artista está inserido.
No domingo, dia 7 de JUNHO a Láudano Artes realizará a segunda edição do encontro no Kubitschek Bar (Av. JK, 441), buscando a aproximação entre artistas e público ao proporcionar a fruição de trabalhos culturais de artistas iniciantes, amadores e profissionais para fomentar a produção cultural contemporânea da região de forma gratuita.
Os interessados em expor seu trabalho visual (escultura, fotografia, pintura, desenho, instalação, performance, etc), cênico (teatro, circo, DANÇA, etc) ou híbrido, entrem em contato pelo e-mail promotor@laudano.art.br ou pelo telefone 44-99149489.

Confira abaixo o vídeo do PRIMEIRO encontro com a cobertura do programa Canta Cidade:

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Desenvolvimento da Arte Moderna no Brasil

Com a consolidação da Academia Imperial do Rio de Janeiro, alguns de nossos pintores foram estudar e se aperfeiçoar na França ou na Itália. José Ferraz de Almeida Junior foi um destes pintores que se tornou acadêmico da escola francesa no mesmo período do advento da fotografia e das primeiras exposições impressionistas em Paris. Embora tenha críticos que sustentem que este artista desenvolveu trabalhos mais autênticos antes de sua viagem, as gerações posteriores o saudaram pela ruptura com os temas exaustivos de alegorias e assuntos bíblicos se tornando responsável, aqui no Brasil, por uma rebeldia artística anterior às vanguardas. A euforia que este causou entre seus contemporâneos se deu pelas temáticas regionais, caboclas e caipiras como aquela prenunciada por Monteiro Lobato na coletânea Urupês editada em 1914.
Entretanto, os exemplos mencionados não foram necessariamente as libertação artística nacional e independência literária brasileira. E em geral, os pintores brasileiros que passavam uma temporada no Velho Mundo retornavam de lá europeizados, trajados de indumentária acadêmica. Um pintor que fugiu à essa regra foi Eliseu Visconti, o qual embora tenha sido consagrado em vida graças à triunfos escolares e acadêmicos, se sentiu enojado com os ambientes conservadores das academias, não se conformando com seus êxitos ao desdenhar dos galardões oficiais e optar pela sua consciência artística. Conforme Mário Pedrosa, os precursores do movimento moderno brasileiro só perderam por não terem tido contato com este velho mestre, que aprendeu diretamente na escola neo-impressionista as técnicas da luz, se tornando o primeiro na pintura brasileira a tratar com maestria o perigoso tema da luz tropical.


O escritor Oswald de Andrade atribui à Lasar Segall a primeira exposição de Arte Moderna no Brasil em 1913. Já em 1917, Menotti Del Picchia, também escritor, publica Juca Mulato considerado a antítese do personagem Jeca Tatu de Lobato. Foi neste período que se identificou a necessidade de transformação do pensamento e a integração do Brasil em si mesmo entre os intelectuais do primeiro grupo modernista. Estes buscaram ensinamentos em mestres europeus que pouco conheciam sobre nosso meio, perdendo a chance de encontrar na obra viscontiana preciosas indicações para o futuro das nossas manifestações artísticas. Separado e isolado deste grupo, Eliseu Viconti ainda viveu vinte anos após a incursão moderna e só obteve reconhecimento integral depois de sua morte, quando não poderia mais contribuir com os talentosos artistas que participaram da famigerada Semana de 22.
O modernismo está totalmente ligado às grandes cidades, com o início da eletrificação destas, onde propiciou rua, bares e cafés iluminados à noite e promoveu um convívio que até então era inexistente. Neste ponto, São Paulo estava na frente do Rio de Janeiro segundo Mário de Andrade, sua atualidade comercial e industrialização estava em maior contato com as atualidades do mundo. Foi neste ambiente também que eclodiu, ainda no século vinte, os Museu de Arte de São Paulo e Museu de Arte Moderna criados na tensão dos debates polarizantes entre o figurativo e o abstrato. Idealizado pelo MAM, surgiu também a 1ª Bienal Internacional de São Paulo inaugurada em 1951, completado sua função de ligar a América Latina ao circuito internacional de arte e fazendo da bienal um mecanismo de promoção e consolidação da arte moderna e também do campo artístico internacional, assim como em Veneza.


Referências:
Mário Pedrosa. VISCONTI DIANTE DAS MODERNAS GERAÇÕES. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1950 (Crítica).

Rita Alves Oliveira. BIENAL DE SÃO PAULO: IMPACTO NA CUTURA BRASILEIRA. São Paulo, 2001 (Artigo).

Rosângela Miranda Cherem. APARÊNCIA E APARIÇÃO, O JOGO DE TRANSTORNOS NUM RETRATO DE ALMEIDA JÚNIOR. Curitiba, 2009 (Artigo).

TV Cultura. SEMANA DE ARTE MODERNA. 2002 (Documentário).


sexta-feira, 15 de maio de 2015

Missão Artística Francesa

Com a chegada da corte portuguesa no início do século dezenove o Príncipe Regente Dom João transformou o Brasil de colônia em principal país do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fazendo do Rio de Janeiro a capital e sede de seu governo. Em relação ao período anterior, a chegada da Família Real trouxe grande progresso ao país, com a fundação de universidades, o desenvolvimento da imprensa periódica, a preocupação com os problemas de saneamento, etc. De todas as mudanças estruturais e culturais realizadas neste período, optamos por evidenciar a sistematização do ensino e da prática artística que se deu com a vinda da Missão Artística Francesa em 1816.
Antes deste período já havia no Brasil produções artísticas e até mesmo aulas de desenho e pintura. Porém os sistemas predominantes na colônia eram o da arte autodidata feita em nível de artesanato por pessoas humildes e o da arte elaborada pelos clérigos, baseada nos princípios da fé como na Idade Média. A produção artística colonial, sobretudo o barroco brasileiro, chegou a ser desqualificada pelo seu "amadorismo". A ruptura com a tradição barroca, religiosa e popular se deu pela inserção de uma prática academicista trazido pelos franceses de estilo neoclássico. Porém a realidade daqui era distinta da França revolucionária, os ideais e formalidades neoclássicos se encontravam fora do contexto brasileiro. Simplesmente era postiço e enganoso aplicar o sistema formal do neoclassicismo na representação da realidade brasileira.


O caráter heroico deste estilo simplesmente não combinava nada com o caricato monarca fujão que governava nosso país. Porém por encomenda deste, após Nicolas Taunay se oferecer como pintor para a Família Real e mais uma série de outros acontecimentos, Joachim Lebreton foi indicado para organizar o grupo de artistas que vieram da França com a finalidade de fundar no Rio de Janeiro uma Academia de Belas-Artes. A expedição que ficou conhecida por Missão Artística Francesa, trouxe cerca de quarenta estrangeiros. Os principais entre eles, além de Taunay e Lebreton, eram Jean Baptiste Debret, Grandjean de Montigny, Simon Pradier, Segismund Nuekomm e François Ovide. Somente dez anos depois da chegada destes a "academia" se tornou realidade, pois o ritmo na capital provisória do reino era lento.
O atraso também se deu por conflitos de interesses entre portugueses e franceses, numa rixa que refletia pouca importância dada às questões verdadeiramente artísticas. Ainda assim, aos poucos se concretizava aqui um ambiente de ensino artístico. Debret, que atuou como professor de pintura de história na academia é tido também como o responsável pela realização das primeiras exposições de artes plásticas no país, nos anos de Brasil Imperial. Um aluno seu de destaque neste período foi Araújo Porto-Alegre, o qual contribuiu na realização da exposição pública de dezembro de 1929. Victor Meirelles também se matriculou na academia e posteriormente se tornou ali um admirado professor. De lá pra cá foram muitas as denominações para este espaço de ensino que perdura até hoje sendo chamado de Escola de Belas Artes (incorporada à Universidade Federal do Rio de Janeiro).


Referências:
Anderson Ricardo Trevisan. DEBRET E A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA DE 1816: ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DA ARTE ACADÊMICA NO BRASIL. São Paulo, 2007 (Artigo).

Rodrigo Naves. A FORMA DIFÍCIL: ENSAIOS SOBRE ARTE BRASILEIRA. São Paulo, 2011 (Livro).


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Barroco brasileiro

No século dezessete a Paraíba também foi alvo da ocupação holandesa, situação que só se viu livre com a chegada de tropas portuguesas aliadas à alguns colonos em seu território por volta de 1645. Neste período espalharam-se sesmarias pelos vales dos rios Paraíba e Mamanguape alcançando também o interior e o sertão da capitania. Com a expulsão dos holandeses, a região buscou crescer e prosperar como nos anos anteriores à invasão, porém os lucros da Coroa Portuguesa com o açúcar foram afetados enormemente graças ao conhecimento do plantio da cana-de-açúcar levado pra fora do Brasil com os neerlandeses. Neste território se desenvolveu uma expressão barroca distinta da conhecida nas igrejas do Centro-Sul do país.


A população católica das regiões de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, fosse ela abastada ou miserável, ergueu monumentos para a glorificação da fé muitas vezes correspondendo à uma necessidade de ostentação. Esta afirmação se dá pela riqueza das construções do barroco mineiro, traduzido em espalhafatosas dobras, redobras e brilho as quais refletem um refinamento da sociedade mineradora enriquecida pela corrida do ouro, pelo comércio ou pelo cultivo da cana. Enquanto isso, o barroco desenvolvido no litoral nordestino, de forma geral, preservou as características formais do estilo europeu, porém absorveu elementos da flora e da fauna locais em construções que objetivavam a catequese e a evangelização
O intuito catequizador desta expressão pode ser observado também no anonimato das produções. Os artesãos, artífices e artistas que atuaram nesta região não gozavam de uma posição social influente, por isso sua assinatura era desnecessária. O importante era a funcionalidade da obra e não o virtuosismo daquele que a fez. Aqui já podemos pontuar nitidamente o atraso em relação à posição do artista na sociedade, que na Europa deste período, já tinha atingido um status de destaque no meio social. Na Paraíba há uma total despreocupação com o registro da autoria das obras do estilo.
Resolvemos situar o Barroco brasileiro para além de Minas Gerais pela necessidade de expandirmos o conhecimento para além do convencionado. Pois contrariando a ideia apresentada sobre o anonimato, percebemos em nosso país o mito construído com Aleijadinho, personagem romanticamente baseado em Antônio Francisco Lisboa, escultor mulato filho de escrava com o arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e que teve seu legado iniciado pelo diretor de ensino de Ouro Preto, Rodrigo Ferreira Bretas em 1858, cinco décadas depois da morte do escultor. Atualmente, mesmo não contendo obras de Antônio Francisco Lisboa assinadas, os colecionadores atribuem mais de 400 trabalhos ao dito genial artista Aleijadinho.


Referências:
Carla Mary da Silva Oliveira. O BARROCO DA PARAÍBA: ARTE, RELIGIÃO E CONQUISTA. João Pessoa, 2003 (Livro).

Leandro Narloch. GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL. São Paulo, 2011 (Livro).



segunda-feira, 27 de abril de 2015

Antropofagismo no Brasil Holandês

Nos referimos como Brasil Holandês a região que se estendia do Rio São Francisco na Bahia até o Maranhão sob o governo de Maurício de Nassau, entre os anos de 1638 a 1654, também conhecido como governo nassoviano. Neste período comumente referido como invasão holandesa destaca-se o objetivo da Companhia das Índias Ocidentais de controlar os centros de produções açucareiras por meio de um bloqueio naval das praças-fortes da capitania de Pernambuco. Integrando a expedição de Nassau que desembarcou na costa brasileira em 1637, o pintor neerlandês Albert Eckhout realizou entre outras obras, pinturas de índios canibais chamados de Tapuias, durante sua estadia no Brasil.


Embora não existisse uma etnia Tapuia, esta expressão usada pelos Tupis e posteriormente apropriada pelos europeus, se referia à uma tribo identificada como Tarairiu, de conduta feroz e que não se integravam à forma de vida europeia. Seus hábitos antropofágicos se dão com a morte dos entes queridos, que ao invés de serem sepultados, eram cortados ou divididos minusculamente e devorados crus ou assados. Seus ossos reduzidos a pó eram misturados com farinha ou outros alimentos e seus cabelos eram dissolvidos em água e bebidos pelos seus parentes até a consumação de todo o cadáver. Para estes indígenas, era melhor conservar o amigo dentro de seus corpos do que soterrados no ventre da terra mãe.

Pouco se sabe sobre o artista que retratou estes nativos in loco, porém se criou um mito ao legitimar suas pinturas como registros fidedignos e representações fiéis do natural. Esta alegada exatidão etno-histórica é discutível, embora seja inegável o interesse de Eckhout em reproduzir a ferocidade destes guerreiros abrindo mão da beleza clássica renascentista ao mostrar corpos imperfeitos e rostos feios. Ao observar as pessoas, animais, plantas e objetos naturais, os artistas da Renascença alcançaram as características descritiva e naturalista por meio de técnicas sofisticadas e habilidades de representação ao passo que seus manuais de arte recomendavam esta preocupação. Já as imagens exóticas do neerlandês chocaram o público europeu e criou novas convenções posteriormente copiadas e adaptadas por outros artistas.

Os livros de hábitos também estabeleceram convenções para as pinturas sobre os índios do Novo Mundo e alguns dos elementos utilizados por Albert Eckhout já eram evidenciados em gravuras do século dezesseis. Porém a qualidade deste pintor não está no domínio das cores, nem no uso da perspectiva e muito menos na aplicação dos cânones aprendidos ao invés de se debruçar completamente na reprodução do natural, mas na gigantesca forma em que as telas abandonaram o modelo academicista da representação elegante e escultórica dos corpos humanos. As pinturas de grandes dimensões que originalmente decorariam a casa do Conde de Nassau foram presentadas ao rei Frederic III da Dinamarca na segunda metade do século dezessete e atualmente se encontram no National Museum of Denmark.


Referências:
Evaldo Cabral de Mello. IMAGENS DO BRASIL HOLANDÊS 1630-1654. São Paulo, 2009 (Artigo).

Yobenj Aucardo Chicangana-Bayona. ALIADOS NA GUERRA: OS ÍNDIOS DO BRASIL HOLANDÊS NAS TELAS DE ALBERT ECKHOUT (1641-1643). Londrina, 2005 (Artigo).


domingo, 19 de abril de 2015

Descobertas na Europa e no Brasil

Desde a Idade Média era comum viajantes contarem histórias acerca da existência de tesouros em países distantes. Entretanto, investir nas navegações ibéricas era arriscado e o lucro incerto, pois até então ninguém desconfiava que elas desencadeariam o desenvolvimento do capitalismo comercial. Espanha e Portugal assumiram a paternidade do Novo Mundo e a Santa Madre Igreja foi o suporte básico do assentamento de todo este projeto de colonização. Assim, o pensamento cristão adaptou-se à política expansionista enquanto os demais comerciantes europeus viam a navegação, e principalmente o saque e o contrabando, como alternativas melhores à tarefa de colonizar.

Em abril de 1500 antes que a armada do fidalgo Pedro Álvares Cabral desembarcasse na então Ilha de Vera Cruz, chamada por seus habitantes de Pindorama (Terra das Palmeiras), o primeiro contanto com os nativos se deu com a subida de dois deles, falantes da língua tupi antiga, à bordo do principal navio da frota portuguesa. Foi Pero Vaz de Caminha quem registrou a festa de recepção regada à agrados e comidas. Estes dois indígenas foram os primeiros de muitos a conhecerem os hábitos e costumes do Velho Mundo que se deu pela gastronomia, pelo modo de pensar e pela utilização de plantas, animais, tecnologia, etc.


Quando as grandes navegações retornaram para a Europa com o conhecimento de que a Terra era redonda e a partir da racionalidade desenvolvida com a matemática e geometria, o mapeamento do mundo atestou o domínio da Europa sobre os demais habitantes do globo. O mapa-múndi consistia no desenho de uma imagem à partir de um único ponto, assim como a recém conquistada perspectiva científica necessitava do ponto de fuga para representar o espaço de forma que simulasse perfeitamente a realidade. Mesmo que a perspectiva já tivesse sido intuitivamente experimentada por artistas anteriores à este período, foi somente com Filippo Brunelleschi que ela atingiu sua exatidão matemática conferindo a ilusão de profundidade num suporte bidimensional.

Ao passo que os artistas renascentistas definiam a perspectiva e os conceitos de equilíbrio, harmonia e clareza em suas composições, os nossos índios não haviam nem chegado à Idade do Bronze. Antes de Cabral, os indígenas desconheciam a domesticação de animais, a escrita e a arquitetura em pedra, porém, eram desenvolvedores de uma arte alegre e utilitária. Estas manifestações artísticas e estéticas representavam as tradições da comunidade em que estavam inseridas, diversificando assim de uma tribo para a outra, e nos são apresentadas majoritariamente em forma de pintura corporal, arte plumária e cerâmica com destaque para as fase Marajoara e cultura Santarém expostas atualmente no Museu Paraense Emílio Goeldi.


Referências:
Graça Proença. HISTÓRIA DA ARTE. Sem ano (PDF).

Janice Theodoro da Silva. DESCOBRIMENTOS E COLONIZAÇÃO. São Paulo, 1987 (Livro).


Leandro Narloch. GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL. São Paulo, 2011 (Livro).


domingo, 12 de abril de 2015

Extravagâncias no renascimento da arte

O início da Idade Moderna se dá, tradicionalmente, a partir da conquista de Bizâncio - ou Constantinopla -, capital do Império Romano do Oriente, pelo Império Otomano em 1453. Com a transição do século quinze para o dezesseis começa a surgir na Europa uma descredibilidade na estrutura religiosa da Igreja Católica. O abalo deste sistema que predominou na Idade Média se deu pelas crises morais dos papas, bispos e sacerdotes, pelas indulgências, pelo nepotismo, dentre outras imoralidades do clero em geral. Neste cenário, o humanismo emerge trazendo consigo o renascimento do cidadão europeu, conhecedor agora da autonomia, da liberdade e do senso ético.

O início do século dezesseis, chamado de Cinquecento na Itália, foi o período que se destacaram os mestres famosos das escolas de Florença, Roma e Veneza. Sendo este período também conhecido como o mais célebre da arte italiana, a saber, pelas figuras de Brunelleschi, Michelangelo, Donatello, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Tintoretto, entre outros. Ao redescobrirem a arte clássica greco-romana os mestres italianos se tornaram primorosos na perspectiva científica, na anatomia da figura humana e nos conhecimentos das formas arquitetônicas. Estas descobertas acabaram sendo propagadas para a Alemanha de Albrecht Dürer e Países Baixos de Hieronymus Bosch.


Entretanto, Bosch, conhecido por ser o maior artista da região nesse período, não deixou ser levado pelo emergente estilo moderno advindo da Toscana. O primeiro biógrafo a escrever sobre este mestre flamengo foi Giorgio Vasari e desde essa época, a crítica já considerava a extravagância das composições como característica predominante em suas obras. Na arte de Bosch, nascem criaturas assustadoras e terríveis amálgamas de homem e animal, paisagens fantásticas e alegorias demoníacas que nunca haviam sido vistas antes e as quais demarcam nitidamente o afastamento das formas apresentadas durante a Idade Média. Este marco que o artista alcançou ao retratar os medos do homem medieval naquele momento em que o espírito moderno se infiltrava pelas brechas das antigas ideias que continuavam em voga, fez sua pintura não ser muita aceita e nem compreendida pelos intelectuais da época. 

Erasmo de Roterdão, eminente filósofo da Renascença, embora nunca tivesse mencionado o pintor em seus escritos, se posicionava contra as composições pictóricas que não retratavam adequadamente a vida de Cristo nas paredes das igrejas. Bosch, sem deixar de ser cristão, certamente foi um destes atrevidos que renovou a maneira de representar a esfera espiritual. Outro marco essencial para o mestre foi alcançar o berço da arte renascentista, mais especificamente em Veneza, região onde até hoje encontra-se algumas de suas obras evidenciando sua distinção dos mestres italianos. Aqui no Brasil, a pintura intitulada "As Tentações de Santo Antão" foi adquirida por Assis Chateaubrind e atualmente pode ser encontrada no acervo do Museu de Arte de São Paulo, o MASP.


Referências:
Coleção Grandes Mestres. BOSCH. São Paulo, 2011 (Livro).

Ernst Hans Gombrich. A HISTORIA DA ARTE. Rio de Janeiro, 2013 (Livro).

Luiz Ferrcine. ERASMO DE ROTTERDAM: O MAIS EMINENTE FILÓSOFO DA RENASCENÇA. São Paulo, 2011 (Livro).


sexta-feira, 10 de abril de 2015

De Malungo pra Malungo


Seguindo a série de homenagens à músicos, publicamos em nosso Instagram* esta ilustração em formato digital representando o malungo Chico Science. Tentamos evidenciar a inquietude do personagem e a policromia cultural de Pernambuco retratando o antenado mangueboy mandando brasa num movimento corporal em frente à uma textura semelhante às peles dos batuques do Manguebeat. Abaixo um vídeo do artista apresentando seu suingue ao lado da potente Nação Zumbi.



*Confira aqui: https://instagram.com/p/1Tz-WlFuVB/?taken-by=laudanoartes

segunda-feira, 6 de abril de 2015

O apocalipse da Idade Média

Desde as primeiras manifestações cristãs nas catacumbas romanas até a Igreja Católica finalmente perceber a importância e força das visualidades para arrebatar fiéis passaram-se séculos. A arte medieval voltada para a filosofia e teologia fortaleceu as instituições oficiais do Cristianismo onde até mesmo as concepções arquitetônicas dos templos traz exemplo das manifestações ligadas à fé cristã deste período que chamamos de Idade Média. Situado entre o século V e XV de nossa era, iremos propor seu apocalipse - no sentido grego de revelar/desvendar - assim sendo, sua revelação por meio da investigação de seu contexto histórico, cultural e imagético. 

Pelas ruas de Roma ou de qualquer outra cidade ocidental do século IX o povo vivia num período de trevas. As condições de vida eram precárias para os cidadãos que frequentemente sujos, com cabelos cumpridos e ensebados, tomavam um ou no máximo dois banhos anuais. Era neste mundo de varíola, pulgas e percevejos que a sociedade medieval se dividia basicamente em senhores, religiosos e vassalos. Dentro dos feudos o povo era predominantemente analfabeto e sua devoção religiosa na verdade sustentava os luxos dos nobres e clérigos. A arte realizada neste período não representava esta situação deplorável, mas por serem encomendados pelos membros do Clero, e em sua maior parte compostos dentro das igrejas, as visualidades medievais propagavam a fé cristã recorrendo ao contraste do bem e do mal. De um lado se via a beleza dos anjos no paraíso e do outro a escuridão e o calor do hades utilizados para conter as ambições do povo, pois este controle social foi mantido pelo imaginário de que as pessoas que tivessem uma conduta incorreta iriam para o Inferno.


Na intenção de exaltar a diferença entre o bem e o mal, a iconografia do Diabo e a espacialidade foram estimuladas na criação de uma relação de medo e obediência nas obras sacras. Geralmente os anjos e escolhidos de Deus são alocados do centro pra cima das obras, preferencialmente dispostos à direita de Cristo, enquanto as figuras dos condenados e pecadores são dispostos no canto inferior esquerdo, na maioria das vezes nus, distorcidos, contorcidos e diminuídos em relação aos homens santos. Deste modo, os temas recorrentes nas pinturas eram o Apocalipse e o Juízo Final. O primeiro ganhou popularidade entre os séculos VIII e X, e também simbolizava a Igreja na luta contra suas dissidências internas, enquanto o segundo se destacou na luta da Igreja contra os inimigos externos, dentro da lógica da Inquisição, na qual quem não apoiava o Papa e o Imperador eram acusados de amigos do Diabo.

Mesmo que este período seja considerado de trevas, também foi palco da aparição das três expressões artísticas medievais, conhecidas por bizantina, românica e gótica, principalmente ligadas à arquitetura na forma com que erguiam suas basílicas e catedrais. Outros suportes frequentes que estas expressões se apresentam até hoje são através de mosaicos, vitrais multicoloridos, painéis de madeira e iluminuras. Estas expressões da arte medieval cumpriram os anseios e objetivos da Igreja em provocar nos fiéis um misto de fascinação e medo, trazendo os personagens das Escrituras para a esfera do visível. Deste modo, ainda que controlassem as produções e a vida dos cidadãos comuns, não extinguiram sua imaginação, do contrário, abriram as portas para a visualidade ao transformar a maneira do homem ver o mundo e assim permitir o seu renascimento.


Referências:
Márcia Schmitt Veronezi Cappelari. A ARTE DA IDADE MÉDIA COMO CONSTRUTORA DE UM CONCEITO VISUAL DE MAL. Revista Mirabilia 12. 2011 (Artigo)


quinta-feira, 2 de abril de 2015

DBS e tal


Com o intuito de tornar as produções da Láudano Artes visíveis de uma forma mais dinâmica, criamos uma conta no Instagram*. Na imagem, fizemos uma homenagem ao rapper DBS, originalmente integrante da Família RZO e o qual fez uma participação no disco do finado rapper Sabotage, na música Respeito é pra quem tem. Confira o vídeo da música abaixo:


*Acesse neste endereço: https://instagram.com/laudanoartes/

terça-feira, 31 de março de 2015

A arte dos connoisseurs chineses

A civilização chinesa passou por inúmeros períodos de caos, instabilidade e guerra civil ao longo de sua imensurável história. A origem deste povo é imprecisa e está cercada de mitos e lendas que se confundem com as evidências arqueológicas daquele país. Desde os mitológicos líderes pré-dinásticos, passando pela fábula do Imperador Amarelo até o registro chinês do dilúvio universal, a cultura chinesa se mostra recheada de alegorias que a torna tão singular até os dias de hoje. Não é à toa que suas lendas se transformam constantemente em releituras nos mais diversos suportes artísticos, seja no cinema, nas artes visuais, no teatro ou nos quadrinhos. Por exemplo, qual jovem não conhece o personagem Son Goku, o protagonista do mangá Dragon Ball? Este foi livremente baseado na lenda denominada Saiyuki a qual está repleta de elementos budistas e taoistas.


Assim como na arte egípcia, vemos na antiga produção cultural chinesa uma forte inspiração da religião. O Budismo influenciou a arte chinesa ao introduzir uma nova abordagem da pintura: a reverência pela realização do artista. Este expressava sua personalidade e caráter por meio da técnica com pincel e tinta utilizada por seus antecessores. Ou seja, desde tempos remotos, a China já tinha apreço pela originalidade enquanto expressão da personalidade, mesmo sem ignorar os mestres famosos e muito menos abdicar de certos cânones para atingir maestria. Conhecido por Os Seis Cânones da Pintura, a tradição estabelece seis elementos essenciais para orientar a criação da obra.

A criação artística, para este povo, não era considerada como uma tarefa subalterna, por isso que os pintores eruditos eram denominados connoisseurs, grandes mestres. Também sendo primorosos na fundição do bronze e apreciadores da arte funerária/tumular, esta civilização se distinguia da egípcia nas concepções estéticas a qual nota-se a preferência por curvas sinuosas que sugerem movimento e graciosidade. Isso provavelmente se dava pela tênue semelhança que os chineses aplicavam na escrita caligráfica e na pintura. Tanto uma quanto a outra necessitavam dos mesmos equipamentos e buscavam a mesma meta de propiciar um estado meditativo para quem as contemplasse. Assim, frequentemente, o artista escrevia versos poéticos no mesmo rolo de seda em que pintava. E mesmo que estas fossem monocromáticas, o domínio da variação de tons e dos estilos de pinceladas conduziam o artista ao aperfeiçoamento do que chamavam de Cinco Cores.

Daí que surge a estética chinesa da cor, das técnicas monocrômicas, das pinceladas firmes e vigorosas, da identificação do connoisseur chinês com o princípio da vida. O ato de pintar era visto como uma expressão de maturidade, assim, antes de se dedicarem à pintura, os artistas primeiro se destacavam na sociedade como eruditos, calígrafos e/ou poetas. Pois a pintura não era vista como profissão, assim os pintores chineses atingiam sua excelência depois de se submeterem à uma rigorosa disciplina intelectual. Ao conduzirem-se por esta via tão distinta dos ocidentais, embora pudessem produzir réplicas da realidade ou imitar a natureza como os gregos, os artistas orientais colocavam primeiro sua personalidade em harmonia com o princípio cósmico e permitiam que seu coração se integrasse com o ch'i, para que o Tao se expressasse por meio dele, fazendo da pintura uma extensão da arte de viver.


Referências:
Ernst Hans Gombrich. A HISTORIA DA ARTE. Rio de Janeiro, 2013 (Livro).

Harold Osborne. ESTÉTICA E TEORIA DA ARTE - uma introdução histórica. Londres e Harlow, 1968 (Livro).


domingo, 22 de março de 2015

Carta aos Romanos

Assim como nas civilizações já mencionadas anteriormente, os romanos também eram politeístas. A variedade de deuses adorados nas mediações do Império Romano era tamanha que, durante o reinado do Imperador Adriano, foi construído o Panteão de Roma com o intuito de reunir o culto à todas estas divindades em um único templo. As construções arquitetônicas desta civilização se desenvolveu em um caminho distinto dos gregos devido ao uso dos arcos e abóbadas, os quais permitiram que os romanos criassem espaços internos mais amplos e também os famosos aquedutos. Neste contexto histórico, temos o conhecimento de Saulo de Tarso, cidadão romano de procedência judaica que ficou bastante conhecido pela perseguição dos primeiros cristãos na Judeia até que o próprio Jesus lhe apareceu na estrada de Damasco. 

Ironicamente, Saulo que era o perseguidor de cristãos, ao se tornar um, foi perseguido pelos judeus e só não foi crucificado pois era um cidadão romano. Antes de ser capturado e preso em Jerusalém, Paulo escreveu sua famosa carta para os cristãos que residiam em Roma, aproximadamente em 57 d.C, anunciando seu entendimento sobre o evangelho e as doutrinas dos seguidores de Cristo. Difícil é tentar compreender a gradual expansão do cristianismo mesmo neste contexto de perseguição. Desde o ano 64 de nossa era com o Imperador Nero até 305 sob o governo de Diocleciano, cristãos eram assassinados, incendiados e brutalizados para o entretenimento da população romana. Deste modo, Paulo escreveu para aqueles desamparados que não tinham templos para se reunir, mas que devido às perseguições, realizavam suas assembleias dentro de residências e também em galerias subterrâneas conhecidas por catacumbas.


O espaço dentro dessas galerias serviam inicialmente para sepultar os mártires, aqueles que morreram pela sua fé e que desejavam ser ressuscitados por Jesus integralmente, já que acreditavam que o costume romano de cremação poderia interferir neste objetivo. Quando estas galerias foram redescobertas, descobriu-se as primeiras manifestações de pintura cristã realizadas inicialmente por homens do povo e não grandes artistas, daí as características simples e até mesmo toscas, de forma rude ou grosseira como é relatada pelos historiadores. Nestas pinturas simbolistas, vemos por exemplo o peixe, que em grego se escreve ICHTYS coincidindo com a expressão "Iesous Christos, Theou Yios, Soter" (em português "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador") e o qual inclusive é utilizado por cristãos até os dias de hoje. Este relacionamento entre arte e cristianismo se tornou cada vez mais íntimo e isto pode ser observado na arte bizantina, gótica e até mesmo depois da Idade Média.

Saulo, que também era chamado de Paulo, após se converter fez três viagens missionárias e só conheceu a capital do Império quando tinha cerca de cinquenta anos. O livro bíblico de Atos dos Apóstolos narra esta viagem de Cesareia à Roma no capítulo 27, sendo considerado o relato mais completo daquele tempo de uma viagem por mar num navio à vela. Neste mesmo livro, temos um outro curioso relato ocorrido na cidade de Éfeso localizada na província asiática do Império Romano, onde um ourives chamado Demétrio lucrava muito com a venda de miniaturas do templo da deusa Diana em prata, e viu seu negócio ameaçado com a pregação monoteísta de Paulo e seus companheiros. Estes últimos foram capturados pelos cidadãos de Éfeso e levados à um teatro onde só não foram assassinados pela multidão revoltada graças à intervenção do secretário da prefeitura da cidade.


Referências:
Graça Proença. HISTÓRIA DA ARTE. Sem ano (PDF).

Sociedade Bíblica do Brasil. BÍBLIA DE ESTUDO NTLH. 2012 (Livro)*.


*Esta tradução também pode ser acessada NESTE LINK.